A alegria dos outros
É
muito mais fácil ficar do lado de quem precisa de nossa ajuda, do que daquele
que está feliz, vibrando ao comemorar uma vitória que é só dele.
Por Charles Feitosa
Por Charles Feitosa
A
primavera chegou em Berlim. Depois de um inverno relativamente ameno, os
alemães comemoram dias de sol e céu azul e ocupam animadamente os cafés,
terraços e parques. Não são só as flores que vão reaparecendo nas margens do
Spree, o rio que corta a cidade. Reaparecem também as crianças e suas
brincadeiras, as saias e os t-shirts e, principalmente, dezenas de casais
apaixonados pelas esquinas.
A
primavera é uma estação em que todo mundo fica feliz. Quase todo mundo. Em um
domingo festivo de sol, leio com surpresa o artigo irado de uma jornalista,
irritado com a acintosa exibição de felicidade dos casais de namorados nos
bancos dos bares, praças e metrô. Fico me perguntando por que a alegria dos
outros pode ser tão incômoda. Sabemos que a lógica da inveja se baseia no
cálculo comparativo: eu e o outro somos iguais, mas o outro tem algo que eu não
tenho, cuja posse eu não apenas desejo, mas também acredito merecer. Daí a
raiva e o ressentimento. Seria possível imaginar um mundo em que eu pudesse me
“alegrar com o outro”, mesmo ele tendo um bem que eu não possua?
Uma
das dificuldades está no próprio regime da alegria. A alegria intensa, aquela
dos enamorados, costuma ser total e irrestrita. A alegria tem algo de
crueldade, não respeita os limites de ninguém, simplesmente não pode ser
escondida. É como o sol, tem de brilhar e pronto. Entretanto, que o brilho da
alegria alheia não nos aqueça, mas nos agrida, não é culpa dela mesma. Talvez a
dificuldade resida no fato de que a alegria de estranhos nos seja estranha
também. Será que se fossem amigos ou parentes, seria mais fácil se deixar
contagiar pela sua felicidade?
Infelizmente
acontece a mesma coisa na relação entre pais e filhos, entre irmãos ou entre
amigos. Ao contrário da sabedoria popular, que afirma como verdadeiros amigos
aqueles que se mostram presentes na hora da necessidade e da dor, é muito mais
difícil ficar do lado de quem está comemorando uma vitória do que daquele que
precisa de nossa ajuda. É o que sugere Nietzsche no parágrafo 499 de Humano,
Demasiadamente Humano (1878) ao associar
a amizade não à capacidade de “sofrer com” (Mitleid), mas sim de
“alegrar-se com” (Mitfreude). Para Nietzsche, a compaixão esconde um excessivo
enamoramento de si mesmo, como se só fosse possível confirmar a própria
superioridade e a própria força diante de alguém que está frágil e dependente.
A compaixão é parente da inveja.
Talvez
estejamos demasiadamente presos a formas de alegria que exigem causas como o
prazer de possuir um bem ou o prazer de ver o outro sem bem nenhum. A alegria
que nasce da alegria do outro, esse sentimento ainda sem nome, segue outra
lógica, um tanto quanto paradoxal, mas plenamente possível: alegrar-se sem as
razões e sem as explicações habituais. Em última instância, essa alegria diz
respeito à serenidadede deixar que a vida – com suas catástrofes e suas delícias
– continue para os outros, mesmo após nossa morte. Como toda alegria, essa
forma absurda também tem um clima de primavera, pois traz ar, luz e liberdade
de movimento.

Se
a felicidade de outras pessoas tem te causado incômodo, vamos pensar juntos no
motivo pelo qual isso acontece?
Psicóloga Stael Rezende (UFSJ) - CRP-04\43387.
staelcontato@hotmail.com e
starezende2010@hotmail.com
Telefones: (31) 7563-3841 (TIM) – (32)
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